segunda-feira, 13 de junho de 2011

Cartas à Directora

Tempos de inúmeras dúvidas, não é a menor a que nos remete para o interior da alma e a expurga de toda a credulidade, até ao vazio da racionalidade e falta de esperança. O racionalismo do século XVIII desenvolveu-se centrado na ideia da total emancipação do homem e prefigurando um niilismo que conferia ao ser humano auto-suficiência material e espiritual, capaz de o tornar numa entidade dominadora e fora do contexto da realidade determinante constituída pela natureza. O que caracteriza o homem moderno é o seu afastamento em relação ao elemento natural. A evolução humana ao longo da história centra-se mais neste último aspecto do que na evolução de uma humanidade mais civilizada encarada esta como o progresso ao nível dos direitos humanos, do espírito de entreajuda e da fraternidade. A civilização parece identificar-se, essencialmente, com uma pretensa evolução tecnológica e científica, cujos benefícios não parecem conseguir resolver os grandes problemas da humanidade. O próprio homem dispersa-se enquanto conceito, representando o afastamento ao elemento natural a perda do seu próprio paradigma, o qual assume significado na relação estreita, próxima e interdependente com a natureza.

Paulo Frederico Gomes (Público, 10/01/2010).

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